António Pinho Vargas apresenta "Solo II" na Culturgest
"É uma espécie de revisão da matéria dada enquanto músico de jazz mas com uma abordagem diferente a todas essas composições que escrevi", disse o pianista e compositor à Lusa.
"Uma já antiga" de 1976 é a peça mais antiga e a mais recente é "in between t&o" (2009) que gravou casualmente, e é "o máximo de improvisação total".
"Já tínhamos terminado a última sessão de gravações e eu estava a tocar descontraidamente quando o José Fortes [técnico de som] me perguntou, 'por que não gravas isso?'. Disse-lhe - 'põe a gravar' - e são oito minutos de plena improvisação. Seria agora incapaz de repetir tal como lá está registado. Inventei no momento", contou.
Um facto que lhe agrada pois, apesar de ter acontecido várias vezes na sua carreira improvisar construindo ao mesmo tempo, nunca ficou gravado.
Referindo-se ao título escolhido afirmou: "nos temas 'thelonius skizo sketch' e 'ornette' faço mais improvisações, em 'thelonius' que é de 1988, improvisei a meio, enquanto em 'ornette' improvisei no princípio", explicou.
O pianista afirmou que o propósito inicial foi "tocar as músicas nos seus núcleos temáticos". "Mas acabei por acrescentar prelúdios, interlúdios e pós-lúdios, zonas de improvisação que não existiam".
Pinho Vargas regressou ao jazz no ano passado, depois de sete anos de ausência em que se dedicou à composição de música contemporânea.
Para este álbum, que apresenta sábado na Culturgest ao Campo Pequeno, Pinho Vargas escolheu "composições que pudessem adaptar-se a piano solo".
"Eu compunha para os diferentes grupos de jazz que tive, essencialmente o quarteto com o José Nogueira, Pedro e Mário Barreiros, que se manteve durante dez anos", disse. "Agora era muito diferente, até a minha abordagem ao instrumento mudou".
Pinho Vargas afirmou que em muitas músicas teve de "reflectir, pensar no assunto, não foi imediato".
"Tive de pensar no assunto, experimentei, reflectir sobre qual seria o papel da improvisação nestas novas versões", afirmou.
Para o músico, de 58 anos, "improvisar é inato" mas hoje "é muito diferente da forma como o fazia antes".
"Com este trabalho descobri formas novas de improvisação que saem do quadro típico da improvisação jazzística, tanto mais que quando improvisava era dentro de um grupo, ou em duo com o José Nogueira", afirmou.
Apresentar-se em palco é, para António Pinho Vargas, "um investimento físico muito grande", além da "tensão emocional que gera". "No dia seguinte estou completamente exausto, não consigo fazer nada", confidenciou.
No Grande Auditório da Culturgest, Pinho Vargas irá interpretar algumas das 37 peças que constituem o duplo CD, desde "uma já antiga" de 1976 á gravada no final das gravações, "between t&q", passando por temas como "quedas d'água (com lágrimas)" (1979), "vilas morenas" (1985), "a incontornável melancolia" (1989), "quatro mulheres" (1995) ou "funerais" (1999).
O duplo álbum "Solo II" sucede a "Solo" editado o ano passado também pela David Ferreira Investidas Editoriais.